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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O DIREITO DE APRENDER DE TODOS E DE CADA UM

“A EDUCAÇÃO INCLUSIVA”

Márcia Dantas



... a sociedade atual é como uma avenida muito movimentada, onde é muito difícil adentrar e permanecer, pois não tem qualquer sinalização. Só os muito aptos é que conseguem fazê-lo. Quem está nas estradas vicinais dificilmente consegue entrar na avenida e isto é muito ruim, pois é na avenida que se localizam os teatros, cinemas, supermercados, escolas, etc. Só que a avenida tem uma peculiaridade, ela inevitavelmente bifurca-se em estradinhas secundárias, de forma que quem está na avenida hoje, amanhã não estará mais. Realizar a inclusão significa colocar sinais nesta avenida, facilitando a todos o livre trânsito, de forma que TODOS colham os seus benefícios. No início, os mais apressadinhos podem até ficar irritados com a sinalização, terão que andar um pouco mais devagar, mas com o tempo aprenderão que TODOS têm muito a ganhar numa sociedade inclusiva. Neste dia então, será uma grande festa.”
Cláudia Werneck


Podemos afirmar que a sociedade em que vivemos não está preparada para lidar com as diferenças, não aceitam algo que fuja ao seu cotidiano. Tratam as pessoas com necessidades especiais como se fossem pessoas desfavorecidas, dignas de “pena”. O Estado se desincumbe da responsabilidade para com estas pessoas e suas famílias, transferindo-as para as entidades filantrópicas e instituições.

Se acreditarmos que a relação com o outro é importante para os portadores de deficiência, e se acreditamos que os pais devem assumir seus filhos com todas as suas diferenças, devemos dar condições para esta criança e subsidiar a família para que tenham condições de arcar com as necessidades do filho, porém, estamos sendo hipócritas ao achar que a família e o portador de deficiência recebem da sociedade e do poder público tudo que necessitam para sua sobrevivência.

De acordo com Kupfer, um dos motivos da inclusão social está ligado aos princípios éticos, e, em nome da ética de sermos Seres Racionais, civilizados e para tentar diminuir nossa culpa pelo descaso, o governo – não só brasileiro, como em vários países do mundo, realizam discursos sobre a inclusão escolar e social, mas não tem consciência que está produzindo mais desigualdade. Os governos acham que estão fazendo muito por estas crianças “especiais”, pois antigamente na Grécia e em outros países, crianças que nasciam com alguma deficiência eram condenadas à morte imediatamente.

Kupfer, afirma ainda que é preciso “garantir que não haja critérios arbitra-nos de seleção para a vida e garantir que todos vivam”, pois não a um ser humano com o poder de saber o que vai acontecer nos próximos cinco minutos. Uma criança “especial”, tratada com amor, dedicação de sua família, cuidados médicos especiais, pode tornar-se um cidadão com condições quase normais para viver nos dias de hoje, dependendo do grau de suas deficiências.

Segundo MACEDO, “Crianças ou pessoas em geral que não se encaixem em certos critérios estão fora e, portanto, entregues à própria sorte; a exclusão é o destino dos que não pertencem por não satisfazerem os critérios de uma certa classe.” (2005, p.20). A inclusão escolar é para que estas crianças deixem de ser colocadas em um armário e esquecidas. É preciso que interajam com os demais alunos e a sociedade, percebendo assim, que são importantes e que possuem capacidade de desenvolver-se e futuramente levar uma vida quase “normal” socialmente.

O que estamos vivendo no momento, com relação à inclusão, são as crises de paradigmas e essas crises estão sempre cercadas por incertezas e inseguranças, mas, mesmo assim existe a ousadia para adquirir novos conhecimentos. A educação como um todo, ainda, está pautada nas desigualdades sociais e educacionais, e será por meio de transformações interiores de cada ser humano que poderemos garantir uma educação inclusiva de qualidade para todos independente de raça, cor, etnia, religião ou deficiência.

Para MITTLER, “A rua de acesso à inclusão não tem um fim porque ela é, em sua essência, mais um processo do que um destino.”. (2003, p.36), portanto, devemos estar constantemente abertos à reflexão, em busca de novos conhecimentos.

A mudança no processo organizacional das escolas é um dos fundamentos principais para se construir uma escola inclusiva. E para se chegar a uma escola inclusiva, é necessária a quebra de paradigmas, este ato é imprescindível para se entender como aprendemos e compreendemos o mundo, e a nós mesmos. Já há algum tempo percebemos o esgotamento no modelo de educação, é neste vazio de idéias, que acompanha a crise de paradigma, que surge o momento da transformação na educação.

“Antes de se criar soluções paliativas e compensatórias ou de se procurar o culpado pela situação de crise em que vive a escola de hoje, é preciso analisar o atual sistema escolar. Deve-se ir a fundo para ver o que acontece na escola e não apenas olha-la de cima. É preciso buscar uma outra escola, sem medo e com ousadia. Sem sofrimento e com entusiasmo. Sem individualismo e com a coletividade. Sem solidão e com solidariedade. Sem competição e com cooperação. Sem preconceito e com a valorização e o reconhecimento das diferenças. Precisamos de uma escola sem igual”.
(MACHADO, 2004, p.30)

Segundo MACHADO, reafirma em suas colocações, a responsabilidade de todos neste processo de inclusão, para isso é necessário que as escolas quebrem barreiras dos paradigmas em busca de soluções, já que é possível quando se tem todos na busca dos mesmos ideais.

Ainda que todos digam que a inclusão é de responsabilidade de todos, segundo algumas professoras, as ações que buscam uma inclusão de co-responsabilidade caminha a passos lentos. O que deveria ser uma ação integradora passa a ser segregadora, ou seja, o professor permanece solitário em sua busca para garantir a inclusão de todos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

KUPFER, Maria Cristina. Duas notas sobre a inclusão escolar. Revista Escritos da Criança. Centro Lydia Coriat.Porto Alegre, 2001.

MACHADO, Rosângela. Programa escola aberta às diferenças: consolidando o movimento de reorganização didática. Florianópolis: PRELO, 2004.

MITTLER, Peter. Educação Inclusiva: Contextos Sociais. trad. Windyz Brazão Ferreira. Porto Alegre: Artmed, 2003.

WERNECK, Claudia. Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva. Rio de Janeiro: WVA, 1997

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